quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O Burocrata



Ahh, o Gartolas mais aquele seu ar cerimonioso. Parece que a qualquer momento trará ao mundo mais uma sentença. Sempre pronto para mais uma cerimónia, discursos, abraços, cumprimentos, beijinhos e croquetes!

É um burocrata este gato. Tem alma de. Comporta-se como. Depois de muita observação seguida de não menos longas meditações concluí, sabiamente, que assim é!

Deita-se nos lugares de passagem, transformando-se num obstáculo à livre circulação de bens e serviços. Tal como uma cancela pesada e inamovível, aguarda, impávido e sereno, por algo que não sabemos, mas que com toda a certeza é valioso.

Segredo. Não sabemos, portanto,  exactamente o que é que sua iminência solicita em troca da autorização de passagem.

Quantas vezes o vemos deitado, ora no quarto, ora na sala, ora na cozinha (provavelmente mudança de repartição, departamento, ministério ...), a descansar dos muitos esforços a que foi sujeito devido a tantas, necessárias e imprescindíveis andanças.

É muito interessante o modo como não responde às solicitações, as mais diversas.

Adora-se. Lambe-se.  Em suma, admira-se.

E quando se poe naquela postura, sentado nas patas traseiras com as da frente esticadas, cabeça bem levantada, olhar inquisitivo, poderoso, feito guardião de todas as coisas, inclusivé do bem comum?

Parece por vezes trazer aquele ar compungido e grave de quem lamenta ainda não se verificarem os pressupostos para a solução, em definitivo, daquele caso há muito pendente. Pendente continuará, certamente!

Interessante, alimenta-se sempre que há comida…

Por vezes anima-se, nas horas mais inapropriadas, entra num curto e movimentado afã, uma surtida, que tem sempre consequências ...para terceiros, obviamente.

De quando em vez afia as garras com ar ligeiramente displicente, como quem arruma descontraidamente uma pilha de requerimentos incómodos e amarelados do tempo parecendo dizer: aproximai-vos com chatices que responderei com burocratices.